MOBILE LEARNING EM CURSOS LIVRES: um relato de experiência em um curso de idiomas
*Roberta Luigi é especialista em Língua Inglesa pela FAFIRE e graduada em Letras pela mesma instituição.
**Ênio L.C. Tavares é mestrando em Ciências da Linguagem pela UNICAP. Especialista em Lingua e Literatura Inglesa(FAINTVISA) e Psicopedagogia(FCMSP) e graduado em Letras pela UNICAP.
Resumo
O presente artigo tem o objetivo de apresentar um relato de experiência referente ao uso de celulares em aulas de língua estrangeira. A atividade foi promovida com turmas do nível pré-intermediário, dispostas em grupo, utilizando como recurso didático o livro e o celular com a função gravar. Como resultados, percebe-se que os alunos passam a interagir mais com o objeto em questão, aprendizagem de língua inglesa, e além disso reforça a importância do trabalho colaborativo na turma. Foi verificado ainda o desenvolvimento de competências relacionadas com aprendizagem de uma segunda língua.
Introdução
Nos últimos anos, o papel das tecnologias em nossas vidas tem gerado muitas discussões. Tecnologia é produto da ação humana, está inserida em todo lugar, fazendo parte das nossas vidas. Nossas ações cotidianas são realizáveis graças às tecnologias descobertas e utilizadas pelos povos durante toda a história da humanidade. As palavras “técnica” e “tecnologia” têm a mesma raiz, vindo do verbo grego “tictein”, que significa: criar, produzir, conceber, dar à luz. A técnica não compreende apenas as matérias primas, as ferramentas, as máquinas e os produtos, mas também o produtor, o sujeito altamente qualificado do qual se origina o resto. Sendo assim, tecnologia se entende como o uso do conhecimento científico para especificar modos de fazer as coisas de maneira reproduzível. Compreende um conjunto de ferramentas empregadas num processo de produção. O próprio homem é um ser tecnológico, em contínua relação de criação e de controle com a natureza. Dentre as várias tecnologias presentes na história da humanidade, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) compreendem os recursos tecnológicos que possibilitam a transmissão de informação através de diferentes meios de comunicação, como o jornalismo (impresso, televisivo e radiofônico), livros, computadores, etc. Parte desses recursos inclui meios eletrônicos, surgidos no final do século XX, como o rádio, a televisão, gravador de áudio e vídeo, além de multimídias, redes telemáticas, robótica, entre outros. Entre esses recursos, os celulares, MP3 Players, PDAs e Notebooks têm sido objetos de várias pesquisas no meio acadêmico pelas possibilidades que oferecem no processo de ensino-aprendizagem. Esses instrumentos fortalecem o “mobile learning” que compreende a possibilidade de aprendizagem com mobilidade. Essas atividades são amparadas pelo projeto de pesquisa desenvolvido na Faculdade Senac Pernambuco através do Programa de Iniciação Científica e do Senac, através do Centro de Idiomas que analisa as influências das tecnologias da informação e comunicação no processo de ensino aprendizagem, tendo como foco a utilização do Mobile Learning. O presente artigo tem o objetivo de apresentar um relato de experiência referente ao uso de celulares em aulas de língua estrangeira.
Referencial Teórico
Tecnologias da Informação e Comunicação no Processo de Ensino Aprendizagem
As TICs, através de seus inúmeros suportes midiáticos como o jornal, a televisão e o rádio promovem o acesso e a veiculação das informações a todas as formas de ação comunicativa, em todas as partes do mundo. Hoje não podemos ver mais as mídias como um simples suporte tecnológico. É importante ressaltar suas interações perceptivas, emocionais, cognitivas e comunicativas com as pessoas. Além disso, ela apresenta uma lógica e uma linguagem bem singular. É conveniente apontar que as mídias interferem em nossa forma de pensar, agir, em nossos relacionamentos e ainda adquirimos conhecimento. As TIC são vistas como complementos, companhias, como continuação de espaço de vida. Sendo assim, as pessoas se comunicam, adquirem informações e mudam seus comportamentos. Com a propagação acelerada das TIC, a informação não mais é objetivo exclusivo da educação. Hoje, as informações transformam-se em parte integrante da cultura mundial. Com isso, altera o modelo educacional que dota o aluno de um saber acumulado (KENSKI, 2003).
As TICs transformam o conceito de conhecimento porque a aquisição de competências torna-se um processo múltiplo e contínuo, tanto em suas fontes, como em suas formas e vias de acesso. Porém as novas tecnologias redefinem as velhas, oferecendo às mesmas novas finalidades. Elas promovem alterações nas relações de poder porque ampliam os locais e os tempos de buscas de saberes e competências. O processo atual não é mais plano, linear e unidimensional, mas sim, disponível em rede, tendo a Internet como a mais preferencial e ampla. As TIC são auxiliares no processo de ensino-aprendizagem, interagindo e integrando professores e alunos em espaços de interação e virtualidade. Nesse aspecto, amplia-se a sala de aula através de conexões que se estendem ao longo do processo (OLIVEIRA, 2003).
As instituições de ensino superior, na situação atual, perderam o papel exclusivo na transmissão e distribuição do conhecimento. Os inúmeros meios tecnológicos colocam de forma atrativa e variada as informações. Os usos das TIC devem estar vinculados às concepções que os alunos têm sobre esses recursos na medida em que possibilitam a elaboração, o desenvolvimento e a avaliação de práticas pedagógicas que promovam uma abordagem reflexiva sobre os conhecimentos e os usos tecnológicos (LIGUORI, 1997).
Não podemos enfatizar e criar uma solução e um modelo universal em relação ao melhor procedimento para o ensino. É importante ressaltar que as aulas presenciais permitem discussão em sala de aula, elaboração de questionamentos através da interação e troca de experiência. Entretanto, a possibilidade de termos alunos em espaços geográficos diferentes interferindo em tempos diferentes, define uma grande vantagem para o ensino mediado por tecnologias.
Mobile Learning
Diante de todo esse contexto, Graziola Júnior (2009) apresenta uma nova modalidade de TICs, as tecnologias da informação móveis e sem fio (TMSF) que consistem em dispositivos computacionais portáteis tais como PDAs, Palmtops, Laptops, Smartphones, dentre outros que utilizam redes sem fio.
Para Marçal et al (2005) apud Graziola Júnior (2009), o mobile learning pode potencializar o processo de ensino-aprendizagem pelo fato do aluno contar com um dispositivo computacional móvel para execução de tarefas, anotação de idéias, consulta de informações via Internet, registro de fotos através de câmeras digitais, gravações e sons e etc. Além disso, poderá prover acesso a conteúdos em qualquer lugar e a qualquer momento, desenvolvimento de métodos inovadores de ensino e de treinamento e expandir os limites internos e externos da sala de aula.
Várias teorias têm buscado respostas para esse novo campo educacional, o Mobile Learning. Quando pensamos em teoria da aprendizagem, três abordagens têm despertado interesse de pesquisadores há muito tempo: Behaviorismo, Cognitivismo e o Construtivismo. Dentre essas, o construtivismo tem exercido uma forte influência em nossa sociedade.
Siemens (2008) defende que a aprendizagem está fora e dentro do sujeito. O autor defende o Conectivismo que considera que o conhecimento está literalmente distribuído através de conexões.
Pachler, Bachmair e Cook (2010) propuseram um modelo conceitual para Mobile Learning visualizado em termos ecológicos como parte de contextos sócio-culturais e pedagógicos em transformação. Os autores estabelecem que o processo de aquisição de conhecimento está envolvido a partir de múltiplos contextos. A proposta é desenhada em três aspectos:
Figura 1: Componentes chaves da Teoria Ecológica Sócio-cultural
Explicitando o eixo Agente, percebe-se nos jovens novos hábitos de aprendizagem, onde o ambiente se apresenta com um grande potencial para desenvolvimento. Apresenta o usuário capaz de agir com autonomia no mundo. Em relação as práticas culturais, a interação social, a comunicação e o compartilhamento tem sido bem significativo, tanto dentro como fora do espaço escolar. As estruturas apresentam as novas estratificações sociais, a massificação da comunicação e o novo currículo educacional que provoca novas possibilidades de aquisição de conhecimento.
As tecnologias móveis, também denominadas Tecnologias da Informação e Comunicação Móveis e sem Fio (TIMS), aparecem no Brasil como instrumento direcionado para o campo dos negócios. Pesquisas iniciais demonstram que há indícios de aplicabilidade na área acadêmica, não chegando necessariamente nas escolas e universidades.
Ensino de Língua Estrangeira
Em um mundo globalizado em que vivemos é comum ver palavras diferentes do nosso idioma seja em Inglês, Francês, Espanhol no nosso dia a dia. Nós que interagimos não só com pessoas de nosso país, estamos sentindo a necessidade de aprender um outro idioma para que possamos ser incluído nesse contexto globalizado e o inglês tem se apresentado como destaque absoluto nesse contexto. É muito comum sairmos nas ruas ou falarmos com alguém e ouvir ou ver palavras em inglês. É nesse contexto simples de palavras soltas que nos faz aguçar a curiosidade (principalmente dos adolescentes) e entrar no universo da sala de aula. Adultos já procuram a sala de aula não só na finalidade de saber as palavras mais simples do uso diário como Internet, Disk Jokey,Vip, Sandwich, entre outras. A necessidade vai além dessas questões, como melhorar o currículo para interagir melhor no mundo competitivo, ser aprovado em concursos públicos, além do uso de um outro idioma no mercado de trabalho.
Precisamos aprender criar e interagir. E onde isso tudo acontece? No mundo mágico da sala de aula onde criamos, trocamos, aprendemos e desaprendemos também para construir melhor, porém quando falamos em sala de aula não precisamos pensar em formalidades como bancas em fila, livros e materiais formais mas pensamos em um lugar onde alunos possam escolher seus lugares, professores possam trazer conteúdos modernos que façam os alunos sentirem entusiasmo.
Segundo Vygotsky (1989, p. 70), a sala de aula é um processo interativo onde possa haver comunicação.
Quando nos referimos ao valor das interações em sala de aula, é importante pensarmos que este referencial não compactua com a idéia de classes socialmente homogêneas, onde uma determinada classe social organiza o sistema educacional de forma a reproduzir seu domínio social e sua visão de mundo. Também não aceitamos a idéia de sala de aula arrumada, onde todos devem ouvir uma só pessoa transmitindo informações que são acumuladas nos cadernos dos alunos de forma a reproduzir em determinado saber eleito como importante e fundamental para a vida de todos.
O autor ainda afirma que quando imaginamos uma sala de aula como um processo de interação, estamos acreditando que todos terão possibilidade de falar, levantar suas hipóteses e nas negociações, chegar a conclusões que ajudem o aluno a se perceber parte de um processo dinâmico de construção.
Metodologia /Resultados
A professora dividiu a turma em quatro grupos, cada um com até 4 alunos. Os grupos foram distribuídos em locais diferentes para não provocar interferências. Cada grupo utilizou um celular com a função gravar.
Figura 2: Alunos interagindo em grupo
(figura retirada)
Os alunos construíram uma estória baseada nas perguntas definidas pelo livro didático adotado em sala de aula. Os alunos, em grupo, leram as perguntas e aproveitaram para checar com o professor dúvidas sobre o vocabulário.
Figura 3: Livro didático X Celular
(figura retirada)
A partir das perguntas do livro, cada grupo construiu uma estória explorando a oralidade e o recurso gravar do celular. Durante a criação da estória o professor apoiou os grupos auxiliando em qualquer tipo de duvidas seja ela de gramática ou vocabulário. Quando as estórias foram concluídas, cada grupo escolheu um representante para gravar no dispositivo a estória finalizada.
Concluída essa etapa, os celulares com as histórias gravadas são trocados entre os grupos de forma aleatória de modo que cada grupo fique com um celular diferente. O grupo ouve a estória criada pelo outro e responde as perguntas que estão no livro ( as mesmas que foram usadas por eles para formar a estória). Quando todos os grupos responderam as perguntas, o professor checou com os grupos de maneira que todos da sala tenham conhecimento das estórias dos outros grupos.
Figura 4: Professora finalizando a atividade
(figura retirada)
Após cada estória narrada o professor perguntou ao grupo que a estória que foi ouvida estava na integra havendo alguma omissão de fatos o grupo da estória original pode corrigir.
Considerações Finais
É nesse universo que o entusiasmo cresce e os conhecimentos de uma nova língua surgiram. Mas como motivar nossos alunos que muitas vezes chegam casados de uma jornada longa de trabalho, faculdade e seus problemas particulares?Agora que entra em Ação é o professor com sua vasta experiência e entusiasmos. Com tantas ferramentas e saber podemos fazer de nossas aulas algo que motive os alunos e que os mesmos aprendam com prazer pois tudo torna-se mais fácil. Então o que podemos trazer de novo para quem está aprendendo? Em um mundo tecnológico tudo se torna mais fácil mais podemos indagar: tecnologia não custa caro?Porem o que precisamos é acessível aos alunos. Um simples celular pode trazer uma aula bastante dinâmica,música,filmes em pequenos trechos para abordar tópico gramatical ou algum tema relacionado a sala de aula ou ao cotidiano dos alunos,jogos interativos que todos possam participar em grupo estimulando assim o coletivo(que ajuda bastante no aprendizado porém bem direcionado para não haver divergências)
Referências
KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas, SP: Papirus, 2003. ( Série Prática Pedagógica).
GRAZIOLA JUNIOR, Paulo Gaspar. Aprendizagem com Mobildiade (M-Learning) nos processos de ensino e aprendizagem: reflexões e possibilidades, 2009. Disponível em: < http://www.cinted.ufrgs.br/renote/jul2009/artigos/9a_paulo.pdf>. Acesso em: 10 set.2009.
LIGUORI, Laura M. “ As Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação no Campo dos Velhos Problemas e Desafios Educacionais”. In: Litwin, Edith. Tecnologia educacional: política, histórias e propostas. – Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
PACHLER, Norbert; BACHMAIR, Ben; COOK, John. Mobile Learning: Structures, Agency, Practices. London: Springer, 2010.
OLIVEIRA, Gerson Pastre. Novas Tecnologias da Informação e comunicação e a construção do conhecimento em cursos universitários: reflexões sobre acesso, conexões e virtualidade. OEI - Revista Iberoamericana de Educación ( ISSN: 1681-5653), 2003.
VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
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