quinta-feira, 22 de março de 2012

A EDUCAÇÃO NA OBRA DE JOHN LOCKE

Resumo
O texto apresenta, de forma simples, a caracterização do momento histórico e da vida do filósofo inglês John Locke, considerado um homem de seu tempo, engajado sempre com problemas contemporâneos ao seu momento histórico. O texto faz um recorte histórico acerca do modo como o pensamento revolucionário e ideias liberais lockianas influenciaram o mundo do conhecimento, da política e, especialmente para nós, a educação. Por isso, o trabalho enfatiza a sua abordagem relativa às questões da educação do chamado gentleman e sua preparação para o novo momento que se instaurava na Inglaterra após a Revolução Gloriosa em 1688. Ele compilou uma série de preceitos sobre aprendizado e desenvolvimento, com base em sua experiência de médico e preceptor, que teve grande repercussão nas classes emergentes de seu tempo.



Palavras-chave: John Locke. Empirismo. Educação.


Abstract
The text shows, in very simple words, the characterization of the historical moment and life of the English philosopher John Locke, who was considered a contemporary man. A man who was always engaged to the events of his time. The text develops a line about the way the revolutionary thoughts and lockian ideas influenced the world of knowledge, politics, and specially for us, the education. That is the reason why this paper emphasizes the approach towards the educational matters concerning to what was called gentleman and his preparation to the new moment he was supposed to face in England after Glorious Revolution in 1688. He compiled his ideas and beliefs in learning and development based on his own experience as a physician and tutor, which let into a huge repercussion among the emergent societies of his time.



O Momento Histórico

Encontramos no início do século XVI, a real situação econômica da Inglaterra bastante próspera, por causa da política mercantilista, comércio de manufaturas, como também, a pirataria apoiada pelo trono inglês. Essa atmosfera termina por fortalecer e enriquecer a burguesia, que passa a fortalecer-se também em outras partes da Europa e a exercer forte influência em todo o território, sendo assim, o absolutismo dos Tudor era voltado para os interesses burgueses. Este forte laço de interesses entre a Coroa e os comerciantes acontecia devido a algumas concessões da Coroa, como o monopólio do comércio. Por outro lado, os burgueses acabavam retribuindo esta concessão com o apoio financeiro e político às decisões da coroa. Os Tudor mantinham a sua hegemonia com aparências de governo popular e quando intencionados a tomar uma decisão recorriam à formalidade para obter a aprovação parlamentar. Temos então, um período no qual o poder político era exercido pela Coroa. Era o auge do absolutismo na Inglaterra. Em 1603, com a morte de Elizabeth I, termina o período da dinastia Tudor, possibilitando um novo período na política e na economia inglesas.
No século XVII, o cenário muda, pois a burguesia, cada vez mais fortalecida, questionara os poderes reais. A partir de uma reformulação na economia e no comércio, surge uma “Nova Burguesia”, dedicada ao setor manufatureiro, em contraposição ao mercantilismo. Existe uma razão para essa mudança de interesses – o crescimento em números da burguesia, impossibilitando que a monarquia garantisse os privilégios e interesses do comércio exterior para todos, mas apenas de uma minoria cada vez mais privilegiada, provocando o descontentamento e a mudança de interesses, iniciando assim uma série de conflitos em série entre os burgueses representados pelo parlamento e a autoridade da coroa inglesa. Outro aspecto que não pode ser esquecido neste período histórico diz respeito às religiões e seus interesses na economia e na política. Todos tentavam utilizar a religião como veículo de divulgação e expressão dos seus interesses. A Igreja Anglicana, originária da elite da nobreza e dos setores mais ligados à coroa britânica, era predominante no poder, tomando partido dos interesses absolutistas que a beneficiava. Por outro lado, os católicos, que também tinham suas origens na nobreza feudal, apesar de não compactuar com a centralização dos poderes apenas na realeza, defendiam o absolutismo, com medo de perderem certos favores e direitos adquiridos com os privilégios feudais. Os calvinistas, mesmo se dividindo em dois grupos – os presbiterianos e os puritanos, que eram de origem burguesa –,faziam oposição ao absolutismo. A partir das mudanças econômicas e políticas ocorridas na Inglaterra no início do século, o absolutismo inicia uma crise; por conseguinte, a disputa dos interesses em jogo atinge também o parlamento inglês.
Como já é sabido, Locke vem de uma família de burgueses comerciantes e é influenciado pelas ideias revolucionárias da época e, especialmente, as ideias do pai. A situação na Inglaterra era bastante conturbada por causa da política de imposição de interesses religiosos adotada por Carlos I. Logo, no ano de 1640, começa uma guerra civil na Inglaterra, motivada pela tentativa de Carlos I em dissolver o Parlamento Inglês. Ao lado de Carlos I, ficaram os católicos e anglicanos, formando o exercito monarquista, ou dos “cavaleiros”. O exército das forças contrárias aos cavaleiros era chamado de “cabeças redondas”, defensores do parlamento, formado por presbiterianos e puritanos das camadas mais humildes. Seguiram sete anos de luta, os “cabeças redondas” venceram. Logo após, julgaram e executaram o monarca Carlos I, suprimiram a monarquia e proclamaram a República na Inglaterra, a chamada Commonwealth. O pai de Locke havia adotado a causa dos puritanos e tinha se alistado no exército do Parlamento, saindo vencedor na guerra.



O Homem John Locke

Nasceu em Wrington, no sudoeste da Inglaterra em uma aldeia no ano de 1632. Ele era filho de burgueses e pequenos proprietários de terras. Foi um verdadeiro artesão do pensamento político liberal que não apreciava a matemática. Estudou na escola de Westminster e aos 20 anos entra em Oxford, que seria sua casa por mais de 30 anos. Lá direcionou os estudos para as ciências naturais e a medicina, porém os estudos tradicionais da universidade não o satisfaziam, mas aplicou-se. Não gostou da filosofia ensinada em Oxford. Mais tarde, julgou como patética a filosofia Aristotélica. Foi admitido na Sociedade Real de Londres - a academia científica no ano de 1668, para estudar medicina. Graduou-se seis anos depois, entretanto sem o título de doutor. Um fato interessante na vida de Locke aconteceu dois anos antes, pois em 1666, quando o lorde Anthony Ashley-Cooper, futuro conde de Shaftesbury, precisou de cuidados médicos, foi atendido por John Locke. No ano seguinte, mostrando que não havia esquecido o estudante que o atendera, Anthony tornou Locke seu conselheiro para questões de saúde, política e economia. Por influência de Ashley, Locke ajudou a elaborar a Constituição do estado norte americano da Carolina. Depois de uma temporada na França, o filósofo foi chamado por Ashley a assumir um cargo de conselheiro no governo do rei Carlos II. Uma reviravolta política afastou ambos do poder. Com medo da perseguição que sofria, Locke fugiu para a Holanda apenas retornando para a Inglaterra em 1688, após o restabelecimento do protestantismo. Com a subida ao poder do rei William III de Orange, Locke foi nomeado ministro do Comércio, em 1696. Ficou neste cargo até 1700, onde precisou sair por motivo de doença. Em seus últimos anos, viveu no campo, perto de Oates, e foi mentor intelectual do Partido Liberal. Locke nunca se casou, ou mesmo, teve filhos. Morreu praticamente só aos 72 anos em 1704 de causas naturais.


Um Filósofo Empirista

Locke encontra-se entre os filósofos empiristas, desta forma chamados pelo fato de abrirem espaço para a ciência junto à filosofia, considerando a experiência como fonte de conhecimento. Destaca-se pela sua teoria das ideias e também pela luta em defesa da legitimidade da propriedade, parte integrante da sua teoria social e política. Para Locke, o direito de propriedade é a base da liberdade humana. Para ele todo homem tem uma propriedade que é sua própria pessoa. O governo existe para proteger esse direito do homem a existir.

O filósofo inglês era atraído pelos tópicos tradicionais da filosofia: o eu, o mundo, Deus e as bases do conhecimento. Foi contemporâneo de Thomas Hobbes, porém, diferente deste, era liberal e com convicções parlamentaristas. Locke começava assim a colocar em prática sua filosofia política. Suas ideias que constituíram a democracia liberal e que teriam forte influência nas décadas seguintes. Muitas delas estão presentes nas constituições dos Estados Unidos e do Reino Unido, e durante muito tempo na constituição francesa. Esses pensamentos fizeram a base de sua obra-prima, o Ensaio sobre o entendimento humano. Locke também foi contemporâneo de cientistas, como Galileu Galilei e Isaac Newton, de quem se tornou amigo e chegou a trocar várias cartas, nas quais conversavam sobre os astros e ideias religiosas. O pensamento de Locke reflete a revolução em andamento na ciência naqueles anos. O pensamento liberal de Locke se mostraria ainda mais ousado com a publicação em 1689 da obra Dois tratados sobre o governo civil. Nela, o pensador mostra como o consentimento voluntário do povo é o único fundamento da autoridade de um governo. Para o filósofo qualquer um, mesmo uma autoridade, que excedesse o poder a ele conferido pela lei e que fizesse uso da força para tomar ou invadir, poderia ser ferido pelo outro e mesmo ser morto como qualquer homem que mediante força viole o direito de outro. Para Locke, o governo deveria agir somente com o objetivo de proteger a vida, a liberdade e a propriedade.
Como eu já citei algumas linhas acima foi enorme a influência da obra de Locke e suas tão famosas teses, estão na base das democracias liberais. No século XVIII, os iluministas franceses foram buscar em suas obras as principais ideias responsáveis pela Revolução Francesa. Montesquieu (1689-1775) inspirou-se em Locke para formular a teoria da separação dos três poderes. A mesma influencia encontra-se nos pensadores americanos que colaboraram para a declaração da independência americana em 1776.



Sobre a linha do desenvolvimento do empirismo, Locke representa um progresso em confronto com os seus precedentes: no sentido de que as ideias dos mesmos se limitavam a nos oferecer, filosoficamente, uma teoria do conhecimento, mesmo considerando a metafísica tradicional, e do senso comum no que diz respeito a Deus, à alma, à moral e à religião. Com relação à religião natural, não muito diferente do deísmo abstrato da época, porquanto é baseada na razão. John Locke defende a tolerância e o respeito às religiões particulares, históricas e positivas.
Nas suas viagens pela França, o filósofo ampliou o seu horizonte cultural, assim como, teve contato com movimentos filosóficos diversos, em especial com o racionalismo. Tornou-se mais consciente do seu empirismo, que procurou completar com elementos racionalistas. As suas obras filosóficas mais notáveis são: o Tratado do Governo Civil (1689); o Ensaio sobre o Intelecto Humano (1690); os Pensamentos sobre a Educação (1693). Os dois últimos marcam as reflexões contidas neste texto.


Origem das ideias

Como a proposta do meu texto é refletir sobre os aspectos educacionais na obra de Locke e inseri-lo dentro dos acontecimentos históricos do seu tempo, não discorrerei aqui sobre os tipos de ideias de sensação e reflexão, nem tão pouco, irei, em tão breves e imaturos pensamentos, tentar discorrer sobre a classificação estrutural das ideias para Locke.
Pontuo que a maior preocupação de Locke em sua teoria do conhecimento foi combater a doutrina disseminada por Descartes - da existência de ideias inatas na mente do homem. Para o pensador John Locke, a mente humana era como uma folha de papel em branco que receberia impressões através dos sentidos a partir das experiências do indivíduo, sem trazer consigo do nascimento, quaisquer ideias tais como a de "extensão", de "perfeição", da “verdade” e outras, como pretendia Descartes. Para o nosso filósofo em questão, todas as ideias vêm ou da experiência de sensação ou da experiência de reflexão. A mente capta e traduz o mundo exterior.
Na educação, compilou uma série de preceitos sobre aprendizado e desenvolvimento, com base em sua experiência de médico e tutor, que teve grande repercussão nas classes emergentes de seu tempo.


Fins práticos para a educação

Frases de John Locke a respeito da educação:

"Os homens são bons ou maus, úteis ou inúteis, graças a sua educação". "Um espírito são em um corpo são é uma descrição breve, porém completa, de um estado feliz neste mundo".

Locke defendia o ponto de vista de que a educação devia ter fins práticos, de preparar o indivíduo para a vida, e não para ser um intelectual de vida acadêmica. Suas obras Thoughts concerning Education ("Pensamentos sobre a Educação") e Conduct of the Understanding ("Condução do Conhecimento") são muito recomendadas quando se trata da história da filosofia educacional. Nos livros, Locke enfatizou o valor da experiência no desenvolvimento da mente, todavia, ele desconsidera, de forma extremista, as diferenças genéticas.
Por esse motivo que para Locke o aprendizado depende das informações e experiências às quais a criança vivencia e que ela absorve de modo natural. Entendemos então, que é um aprendizado de fora para dentro, muito diferente do que defenderam alguns pensadores de linha idealista, como o suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), como também para um vasto número de teóricos da educação, como por exemplo, os de concepção construtivista para os quais o conhecimento institui-se com base na relação entre sujeito e objeto, enquanto a visão lockiana enfatiza apenas o objeto. Embora considerasse que a origem de todas as ideias estava fora do indivíduo, Locke via a capacidade de entendimento como inata e variável de pessoa para pessoa.
O Ensaio sobre o Entendimento Humano tem como fundamentos iniciais a negação da existência de ideias inatas – confrontando o legado do filósofo mais influente do período, o francês René Descartes (1596-1650) e o princípio de que todas as ideias nascem da experiência, em outras palavras, o empirismo. A educação adquiria, desta forma, importância incontornável na formação da criança, uma vez que, sozinha, ela se encontra desprovida de matéria-prima para o raciocínio e sem orientação para adquirir essa experiência, estando fadada ao egocentrismo e à ignorância moral. Apesar do valor que dava à racionalidade, Locke era cético quanto a atingir a compreensão da mente. O objetivo de sua obra principal foi tentar determinar quais são os mecanismos e os limites da capacidade de apreensão do mundo pelo homem.

Sobre a formação do tal cavalheiro

No livro Alguns Pensamentos Referentes à Educação, Locke fala da facilidade de moldar a alma de uma criança e levá-las numa ou noutra direção, como fazemos com a água. Formar um aluno, sob o aspecto intelectual ou moral, seria exclusivamente um resultado do trabalho das pessoas que os educam - pais e tutores, para quem caberia acima de tudo, dar o exemplo de como pensar e agir, treinando a criança para se comportar de maneira adequada. O aprendizado deveria ser feito por meio de atividades. A ideia era que a criança, pelo hábito, inferisse o que está fazendo. Para Locke, a educação ideal seria promovida em casa, por um mentor, papel que ele próprio desempenhou para os filhos de alguns amigos. Locke tinha em mente o homem burguês, aqueles que seriam os futuros governantes. A conduta e a ética do gentleman, incluindo as boas maneiras exerciam papel de destaque na educação. A saúde e a disciplina do corpo também ganharam bastante atenção porque Locke ensinava certo endurecimento físico visando à disciplina.

Conclusão

Locke acreditava que as crianças vêm ao mundo sem nenhum conhecimento, mas já trazendo inclinações e principalmente um temperamento. O mestre, que em nossos dias é chamado educador, deveria observar as características emocionais do aluno para submetê-lo a diferentes técnicas de aprendizado. Mesmo que as concepções de conhecimento do filósofo estejam parcialmente ultrapassadas, essa é uma recomendação que ainda pode ser levada em conta.
Observamos em especial nas duas obras Alguns Pensamentos Referentes à Educação, como também, O Ensaio sobre o Entendimento Humano que John Locke deixa clara a necessidade de um modelo educacional voltado para a defesa das ideias e dos interesses da classe social a qual estava inserido – a burguesia. Uma classe que havia enfrentado desde os séculos XVI e XVII conflitos e revoluções em função da defesa de um objetivo – sua consolidação de poder junto à coroa inglesa. E este novo momento acaba sendo institucionalizado a partir da Revolução Gloriosa de 1688, que garantiu a substituição do absolutismo pela monarquia, a qual a monarquia ficava submetida ao parlamento.
A ascensão da burguesia demandava uma forma de educação diferenciada, em que os indivíduos recebessem uma devida preparação para que pudessem atuar facilmente em sociedade com o interesse de continuar levando adiante os desejos, necessidades e os ideais de sua classe. contudo, conseguiriam alcançar seus objetivos apenas se tivessem uma boa constituição física e moral, sendo assim explicada a preocupação de Locke com o processo educacional abrangente, que passava uma preocupação ímpar com cuidados com a saúde, alimentação, vestuário, hábitos, higiene, equilíbrio da mente, cuidado com a formação moral, influências, exemplos e, principalmente, o processo de disciplinamento. Somente uma preparação assim ampla garantiria o comportamento proveitoso do indivíduo na sociedade, garantindo o jogo de interesses entre monarquia e burguesia europeias.























Bibliografia


BURNS, Edward Mac Nall, LERNER, Robert E., MEACHAM, Standish. O absolutismo. In: História da Civilização Ocidental: do homem das cavernas as naves espaciais. 30.ed. Rio de Janeiro. Globo, 1989.

LOCKE, J. Ensaios acerca do Entendimento Humano (1960). In: Os Pensadores. São Paulo: Editora Abril Cultural, 1979.

LOCKE, J. Introdução Histórica à Filosofia da Ciência, São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1979.
LOCKE, J. Alguns Pensamentos sobre da Educação, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1978.

Um Relato de Experiência no SENAC-PE

MOBILE LEARNING EM CURSOS LIVRES: um relato de experiência em um curso de idiomas
*Roberta Luigi é especialista em Língua Inglesa pela FAFIRE e graduada em Letras pela mesma instituição.
**Ênio L.C. Tavares é mestrando em Ciências da Linguagem pela UNICAP. Especialista em Lingua e Literatura Inglesa(FAINTVISA) e Psicopedagogia(FCMSP) e graduado em Letras pela UNICAP.

Resumo
O presente artigo tem o objetivo de apresentar um relato de experiência referente ao uso de celulares em aulas de língua estrangeira. A atividade foi promovida com turmas do nível pré-intermediário, dispostas em grupo, utilizando como recurso didático o livro e o celular com a função gravar. Como resultados, percebe-se que os alunos passam a interagir mais com o objeto em questão, aprendizagem de língua inglesa, e além disso reforça a importância do trabalho colaborativo na turma. Foi verificado ainda o desenvolvimento de competências relacionadas com aprendizagem de uma segunda língua.


Introdução

Nos últimos anos, o papel das tecnologias em nossas vidas tem gerado muitas discussões. Tecnologia é produto da ação humana, está inserida em todo lugar, fazendo parte das nossas vidas. Nossas ações cotidianas são realizáveis graças às tecnologias descobertas e utilizadas pelos povos durante toda a história da humanidade. As palavras “técnica” e “tecnologia” têm a mesma raiz, vindo do verbo grego “tictein”, que significa: criar, produzir, conceber, dar à luz. A técnica não compreende apenas as matérias primas, as ferramentas, as máquinas e os produtos, mas também o produtor, o sujeito altamente qualificado do qual se origina o resto. Sendo assim, tecnologia se entende como o uso do conhecimento científico para especificar modos de fazer as coisas de maneira reproduzível. Compreende um conjunto de ferramentas empregadas num processo de produção. O próprio homem é um ser tecnológico, em contínua relação de criação e de controle com a natureza. Dentre as várias tecnologias presentes na história da humanidade, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) compreendem os recursos tecnológicos que possibilitam a transmissão de informação através de diferentes meios de comunicação, como o jornalismo (impresso, televisivo e radiofônico), livros, computadores, etc. Parte desses recursos inclui meios eletrônicos, surgidos no final do século XX, como o rádio, a televisão, gravador de áudio e vídeo, além de multimídias, redes telemáticas, robótica, entre outros. Entre esses recursos, os celulares, MP3 Players, PDAs e Notebooks têm sido objetos de várias pesquisas no meio acadêmico pelas possibilidades que oferecem no processo de ensino-aprendizagem. Esses instrumentos fortalecem o “mobile learning” que compreende a possibilidade de aprendizagem com mobilidade. Essas atividades são amparadas pelo projeto de pesquisa desenvolvido na Faculdade Senac Pernambuco através do Programa de Iniciação Científica e do Senac, através do Centro de Idiomas que analisa as influências das tecnologias da informação e comunicação no processo de ensino aprendizagem, tendo como foco a utilização do Mobile Learning. O presente artigo tem o objetivo de apresentar um relato de experiência referente ao uso de celulares em aulas de língua estrangeira.



Referencial Teórico

Tecnologias da Informação e Comunicação no Processo de Ensino Aprendizagem

As TICs, através de seus inúmeros suportes midiáticos como o jornal, a televisão e o rádio promovem o acesso e a veiculação das informações a todas as formas de ação comunicativa, em todas as partes do mundo. Hoje não podemos ver mais as mídias como um simples suporte tecnológico. É importante ressaltar suas interações perceptivas, emocionais, cognitivas e comunicativas com as pessoas. Além disso, ela apresenta uma lógica e uma linguagem bem singular. É conveniente apontar que as mídias interferem em nossa forma de pensar, agir, em nossos relacionamentos e ainda adquirimos conhecimento. As TIC são vistas como complementos, companhias, como continuação de espaço de vida. Sendo assim, as pessoas se comunicam, adquirem informações e mudam seus comportamentos. Com a propagação acelerada das TIC, a informação não mais é objetivo exclusivo da educação. Hoje, as informações transformam-se em parte integrante da cultura mundial. Com isso, altera o modelo educacional que dota o aluno de um saber acumulado (KENSKI, 2003).
As TICs transformam o conceito de conhecimento porque a aquisição de competências torna-se um processo múltiplo e contínuo, tanto em suas fontes, como em suas formas e vias de acesso. Porém as novas tecnologias redefinem as velhas, oferecendo às mesmas novas finalidades. Elas promovem alterações nas relações de poder porque ampliam os locais e os tempos de buscas de saberes e competências. O processo atual não é mais plano, linear e unidimensional, mas sim, disponível em rede, tendo a Internet como a mais preferencial e ampla. As TIC são auxiliares no processo de ensino-aprendizagem, interagindo e integrando professores e alunos em espaços de interação e virtualidade. Nesse aspecto, amplia-se a sala de aula através de conexões que se estendem ao longo do processo (OLIVEIRA, 2003).
As instituições de ensino superior, na situação atual, perderam o papel exclusivo na transmissão e distribuição do conhecimento. Os inúmeros meios tecnológicos colocam de forma atrativa e variada as informações. Os usos das TIC devem estar vinculados às concepções que os alunos têm sobre esses recursos na medida em que possibilitam a elaboração, o desenvolvimento e a avaliação de práticas pedagógicas que promovam uma abordagem reflexiva sobre os conhecimentos e os usos tecnológicos (LIGUORI, 1997).
Não podemos enfatizar e criar uma solução e um modelo universal em relação ao melhor procedimento para o ensino. É importante ressaltar que as aulas presenciais permitem discussão em sala de aula, elaboração de questionamentos através da interação e troca de experiência. Entretanto, a possibilidade de termos alunos em espaços geográficos diferentes interferindo em tempos diferentes, define uma grande vantagem para o ensino mediado por tecnologias.

Mobile Learning

Diante de todo esse contexto, Graziola Júnior (2009) apresenta uma nova modalidade de TICs, as tecnologias da informação móveis e sem fio (TMSF) que consistem em dispositivos computacionais portáteis tais como PDAs, Palmtops, Laptops, Smartphones, dentre outros que utilizam redes sem fio.
Para Marçal et al (2005) apud Graziola Júnior (2009), o mobile learning pode potencializar o processo de ensino-aprendizagem pelo fato do aluno contar com um dispositivo computacional móvel para execução de tarefas, anotação de idéias, consulta de informações via Internet, registro de fotos através de câmeras digitais, gravações e sons e etc. Além disso, poderá prover acesso a conteúdos em qualquer lugar e a qualquer momento, desenvolvimento de métodos inovadores de ensino e de treinamento e expandir os limites internos e externos da sala de aula.
Várias teorias têm buscado respostas para esse novo campo educacional, o Mobile Learning. Quando pensamos em teoria da aprendizagem, três abordagens têm despertado interesse de pesquisadores há muito tempo: Behaviorismo, Cognitivismo e o Construtivismo. Dentre essas, o construtivismo tem exercido uma forte influência em nossa sociedade.
Siemens (2008) defende que a aprendizagem está fora e dentro do sujeito. O autor defende o Conectivismo que considera que o conhecimento está literalmente distribuído através de conexões.
Pachler, Bachmair e Cook (2010) propuseram um modelo conceitual para Mobile Learning visualizado em termos ecológicos como parte de contextos sócio-culturais e pedagógicos em transformação. Os autores estabelecem que o processo de aquisição de conhecimento está envolvido a partir de múltiplos contextos. A proposta é desenhada em três aspectos:
Figura 1: Componentes chaves da Teoria Ecológica Sócio-cultural


Explicitando o eixo Agente, percebe-se nos jovens novos hábitos de aprendizagem, onde o ambiente se apresenta com um grande potencial para desenvolvimento. Apresenta o usuário capaz de agir com autonomia no mundo. Em relação as práticas culturais, a interação social, a comunicação e o compartilhamento tem sido bem significativo, tanto dentro como fora do espaço escolar. As estruturas apresentam as novas estratificações sociais, a massificação da comunicação e o novo currículo educacional que provoca novas possibilidades de aquisição de conhecimento.
As tecnologias móveis, também denominadas Tecnologias da Informação e Comunicação Móveis e sem Fio (TIMS), aparecem no Brasil como instrumento direcionado para o campo dos negócios. Pesquisas iniciais demonstram que há indícios de aplicabilidade na área acadêmica, não chegando necessariamente nas escolas e universidades.

Ensino de Língua Estrangeira

Em um mundo globalizado em que vivemos é comum ver palavras diferentes do nosso idioma seja em Inglês, Francês, Espanhol no nosso dia a dia. Nós que interagimos não só com pessoas de nosso país, estamos sentindo a necessidade de aprender um outro idioma para que possamos ser incluído nesse contexto globalizado e o inglês tem se apresentado como destaque absoluto nesse contexto. É muito comum sairmos nas ruas ou falarmos com alguém e ouvir ou ver palavras em inglês. É nesse contexto simples de palavras soltas que nos faz aguçar a curiosidade (principalmente dos adolescentes) e entrar no universo da sala de aula. Adultos já procuram a sala de aula não só na finalidade de saber as palavras mais simples do uso diário como Internet, Disk Jokey,Vip, Sandwich, entre outras. A necessidade vai além dessas questões, como melhorar o currículo para interagir melhor no mundo competitivo, ser aprovado em concursos públicos, além do uso de um outro idioma no mercado de trabalho.
Precisamos aprender criar e interagir. E onde isso tudo acontece? No mundo mágico da sala de aula onde criamos, trocamos, aprendemos e desaprendemos também para construir melhor, porém quando falamos em sala de aula não precisamos pensar em formalidades como bancas em fila, livros e materiais formais mas pensamos em um lugar onde alunos possam escolher seus lugares, professores possam trazer conteúdos modernos que façam os alunos sentirem entusiasmo.
Segundo Vygotsky (1989, p. 70), a sala de aula é um processo interativo onde possa haver comunicação.
Quando nos referimos ao valor das interações em sala de aula, é importante pensarmos que este referencial não compactua com a idéia de classes socialmente homogêneas, onde uma determinada classe social organiza o sistema educacional de forma a reproduzir seu domínio social e sua visão de mundo. Também não aceitamos a idéia de sala de aula arrumada, onde todos devem ouvir uma só pessoa transmitindo informações que são acumuladas nos cadernos dos alunos de forma a reproduzir em determinado saber eleito como importante e fundamental para a vida de todos.
O autor ainda afirma que quando imaginamos uma sala de aula como um processo de interação, estamos acreditando que todos terão possibilidade de falar, levantar suas hipóteses e nas negociações, chegar a conclusões que ajudem o aluno a se perceber parte de um processo dinâmico de construção.

Metodologia /Resultados
A professora dividiu a turma em quatro grupos, cada um com até 4 alunos. Os grupos foram distribuídos em locais diferentes para não provocar interferências. Cada grupo utilizou um celular com a função gravar.


Figura 2: Alunos interagindo em grupo
(figura retirada)

Os alunos construíram uma estória baseada nas perguntas definidas pelo livro didático adotado em sala de aula. Os alunos, em grupo, leram as perguntas e aproveitaram para checar com o professor dúvidas sobre o vocabulário.

Figura 3: Livro didático X Celular
(figura retirada)

A partir das perguntas do livro, cada grupo construiu uma estória explorando a oralidade e o recurso gravar do celular. Durante a criação da estória o professor apoiou os grupos auxiliando em qualquer tipo de duvidas seja ela de gramática ou vocabulário. Quando as estórias foram concluídas, cada grupo escolheu um representante para gravar no dispositivo a estória finalizada.

Concluída essa etapa, os celulares com as histórias gravadas são trocados entre os grupos de forma aleatória de modo que cada grupo fique com um celular diferente. O grupo ouve a estória criada pelo outro e responde as perguntas que estão no livro ( as mesmas que foram usadas por eles para formar a estória). Quando todos os grupos responderam as perguntas, o professor checou com os grupos de maneira que todos da sala tenham conhecimento das estórias dos outros grupos.

Figura 4: Professora finalizando a atividade
(figura retirada)

Após cada estória narrada o professor perguntou ao grupo que a estória que foi ouvida estava na integra havendo alguma omissão de fatos o grupo da estória original pode corrigir.


Considerações Finais

É nesse universo que o entusiasmo cresce e os conhecimentos de uma nova língua surgiram. Mas como motivar nossos alunos que muitas vezes chegam casados de uma jornada longa de trabalho, faculdade e seus problemas particulares?Agora que entra em Ação é o professor com sua vasta experiência e entusiasmos. Com tantas ferramentas e saber podemos fazer de nossas aulas algo que motive os alunos e que os mesmos aprendam com prazer pois tudo torna-se mais fácil. Então o que podemos trazer de novo para quem está aprendendo? Em um mundo tecnológico tudo se torna mais fácil mais podemos indagar: tecnologia não custa caro?Porem o que precisamos é acessível aos alunos. Um simples celular pode trazer uma aula bastante dinâmica,música,filmes em pequenos trechos para abordar tópico gramatical ou algum tema relacionado a sala de aula ou ao cotidiano dos alunos,jogos interativos que todos possam participar em grupo estimulando assim o coletivo(que ajuda bastante no aprendizado porém bem direcionado para não haver divergências)


Referências

KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas, SP: Papirus, 2003. ( Série Prática Pedagógica).

GRAZIOLA JUNIOR, Paulo Gaspar. Aprendizagem com Mobildiade (M-Learning) nos processos de ensino e aprendizagem: reflexões e possibilidades, 2009. Disponível em: < http://www.cinted.ufrgs.br/renote/jul2009/artigos/9a_paulo.pdf>. Acesso em: 10 set.2009.

LIGUORI, Laura M. “ As Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação no Campo dos Velhos Problemas e Desafios Educacionais”. In: Litwin, Edith. Tecnologia educacional: política, histórias e propostas. – Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

PACHLER, Norbert; BACHMAIR, Ben; COOK, John. Mobile Learning: Structures, Agency, Practices. London: Springer, 2010.

OLIVEIRA, Gerson Pastre. Novas Tecnologias da Informação e comunicação e a construção do conhecimento em cursos universitários: reflexões sobre acesso, conexões e virtualidade. OEI - Revista Iberoamericana de Educación ( ISSN: 1681-5653), 2003.

VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.