Dispositivos,
Mídias e Educação: a cibercultura dentro e fora da escola do século XXI.
Ênio Tavares
Em uma época de inúmeras mudanças sociais, culturais, econômicas,
ideológicas e políticas, a ideia que fazemos de “sociedade do conhecimento”
parece modificar-se. Ferreira (2009) apud Demo (2005) sugere uma noção de
“sociedade intensiva de conhecimento”. Surgem novas maneiras de pensar, de
conviver em sociedade e faz-se necessário entender todo o furor contemporâneo
para então ser atuante nela. Neste sentido, Lévy (1999) destaca a impossibilidade de separação do humano de seu ambiente
material, pois, “as tecnologias são produto de uma sociedade e de uma cultura.”
A quantidade de informações, cada vez mais acelerado, se multiplica e é cada
vez mais complicada a tarefa de filtrar tanto conhecimento e informação através
do facebook, sítios, redes sociais em
geral, programas de comunicação instantânea, blogs e instalgrams são algumas das possibilidades que o avanço da tecnologia
tornou possível. Porém, é preciso cuidado ao usar o termo tecnologia, pois é
amplo e pode receber inúmeros significados dependendo do contexto. Tecnologia
está ligada a alguns conceitos como: artefato, ferramenta, cultura, técnica,
conhecimento, trabalho, ciência e outros. Na educação as tecnologias são
entendidas como ferramentas pedagógicas que podem auxiliar na prática docente.
Não é suficiente apenas a disponibilização de aparatos
tecnológicos, é importante entender como
utilizá-los a favor da mediação do conhecimento e da informação e também como
possibilidade de interação e de colaboração entre integrantes do cotidiano
escolar.
O papel atual da chamada cibercultura, como voz do cotidiano, é
marcado pela formação da opinião pública e na elaboração do imaginário, seja no
contexto social ou individual. Costella (2002): “Sendo tudo tão rápido nessa evolução, até a palavra que se usa para
nomear o mundo novo de pulsações binárias é de criação recente.” Seguindo
com o texto, o autor faz alusão ao primeiro momento em que o termo foi citado
por William Gibson em 1984. Nascia o termo ciberespaço. Os movimentos, atitudes
e cultura dentro desse espaço são chamados de cibercultura. Trabalhando com a palavra enquanto signo ideológico,
um texto de apresentação de determinado programa educativo na Web - World Wide Web ("rede
de alcance mundial", também conhecida como www) influencia o cotidiano do
grupo a que se destina, uma vez que a palavra representa e constrói.
A palavra discurso origina-se do latim discurrere que, por sua vez vem do próprio latim currere
e significa discorrer, expor, atravessar, algo que flui e, portanto, que
sugere movimento contínuo (MOUILLAUD, 1997). Até aproximadamente os anos
sessenta do século passado, conhecíamos discurso como sinônimo de mensagem,
informação, pronunciação de palavras combinadas em frases. Nesta época,
entretanto, surgia na França uma das ciências da linguagem, a Análise do
Discurso, como forma transdisciplinar de reflexão dos processos discursivos,
analisados à luz da linguística, da psicanálise, da história, com base na
filosofia marxista e tendo Michel Pêcheux como fundador da vertente francesa.
Para ele, mais do que simples objeto da linguística, os discursos são produtos
culturais e ideológicos e sua análise deve se processar sob o ponto de vista
dessas determinações. Charaudeau (2003) “Informação,
comunicação e meios são as palavras chaves do discurso da modernidade.” O
autor mencionava palavras que se tornaram moda no discurso e que provocam a
ilusão que carregam em si um poder explicativo. Pêcheux, por sua vez,
inspirou-se em Foucault, que definiu discurso como um conjunto de enunciados
que provém de um mesmo sistema de formação discursiva (FOUCAULT, 1971).
Tais abordagens são complementadas por várias vertentes de análise e
diferentes autores, como Mikhail Bakhtin, que tomou da música o termo
polifonia, para caracterizar a heterogeneidade dos discursos e o atravessamento
de muitas vozes que os compõem, concordantes ou discordantes, mas sempre em
dialogismo. Logo, a palavra é entendida como discurso interior, presente em
todas as relações entre indivíduos, gerenciando o desenvolvimento social,
cultural e político que, em última instância, formam a base ideológica do
indivíduo e da sociedade na qual ele se insere (BAKHTIN, 1997). Logo,
considerando o mundo em que o homem hipermoderno está inserido, temos um
discurso com possibilidade de metamorfose imediata e digitalizado. Lévy (2000)
“[...] todas as mensagens se tornam interativas, ganham uma plasticidade e têm
uma possibilidade de metamorfose imediata.”
O homem é um ser tecnológico, em contínua
relação de criação e controle. Dentre as várias tecnologias presentes
na história da humanidade, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs)
compreendem os recursos tecnológicos que possibilitam a transmissão de
informação através de diferentes meios de comunicação, como o jornal (impresso,
televisivo e radiofônico), livros, computadores etc. Parte desses recursos
inclui meios eletrônicos, surgidos no final do século XX, como o rádio, a
televisão, gravador de áudio e vídeo, além de multimídias, redes telemáticas,
robótica, entre outros. Entre esses recursos, os celulares,
MP3 Players, tablets e laptops têm sido objetos de pesquisas no
meio acadêmico pelas possibilidades que oferecem no processo de ensino-aprendizagem.
Esses instrumentos fortalecem a aprendizagem com mobilidade.
É consenso entre os diversos
autores pesquisados e atores educacionais a revolução que as novas mídias estão
causando na sociedade e a escola, local privilegiado para a construção e
reconstrução de saberes que não está alheia a este fenômeno. Este novo modelo de apropriação e difusão de
informações convoca os profissionais da educação a acompanharem este processo
de transição entre a mídia impressa e a mídia digital, inclusive através de
dispositivos móveis.
Segundo Moran (2006) “a Internet pode ajudar o professor a
preparar melhor a sua aula, a ampliar as formas de lecionar, a modificar o
processo de avaliação e de comunicação com o aluno e com os seus colegas”.
A utilização das TICs por parte
dos docentes em sua rotina escolar deve estar amparada em um material de apoio
que estimule e o auxilie a apropriar-se das mesmas. Mas esta apropriação não é
passível de uma simples leitura. Para que os professores realmente assimilem
estes novos conteúdos e saibam como utilizá-los se faz necessária a quebra de
antigos paradigmas e a construção de uma nova postura. Características como
autocrítica, criatividade, curiosidade, dinamismo, habilidade de lidar com
novas conjunturas, estão entre algumas das novas posturas deste educador que
busca capacitação para utilizar as TIC em sala de aula. Para Alves & Carli
(2009):
|
Nessa perspectiva, mais
importante que o professor dominar as técnicas, é estar apto a construir o
percurso com os estudantes, que muitas vezes, já se apropriaram das
tecnologias.
Observamos que muito do que
dizem sobre os professores, pelo menos, aqueles com os quais mantivemos contato,
sobre serem conservadores e relutarem bastante sobre o uso das TICs e em
especial o uso dos dispositivos móveis no processo de aprendizagem, pode ser
muito mais fruto de representações culturais.
Como destacado por Demo em seu
artigo “Habilidades para o século XXI”, “a
internet está nos atropelando de maneira perplexa, já que não damos mais conta
minimamente de acompanhar o turbilhão caótico de informações vigente e
crescente”. O educador contemporâneo
deve partir da compreensão de que o aluno de hoje necessita desenvolver novas
habilidades que vão além do mero uso destas tecnologias e informações. Acima de
tudo, ele deve ser um leitor crítico e seleto desses dados, mostrar-se apto a se
comunicar e reconstruir os conceitos a que tem acesso.
Partindo das contribuições já mencionadas se entende que é imperativo
refletir sobre os vários enfoques que podem ser dados à formação, além daquele
focado na vertente acadêmica, perpassando, assim também, por áreas de
desenvolvimento pessoal, onde os contextos abordados se inter-relacionam e se
complementam, evidenciando a postura de um sujeito dinâmico frente às
exigências atuais e aspirações, principalmente, no campo educacional.
Diante desse
contexto, Graziola Junior (2009) apresenta uma nova modalidade de TIC, as
tecnologias da informação
móveis e sem fio (TMSF) que
consistem em dispositivos computacionais portáteis tais como PDAs, laptops, smartphones, dentre outros, que
utilizam redes sem fio.
Para o autor, o mobile
learning pode potencializar o processo de ensino-aprendizagem pelo fato de
o aluno contar com um dispositivo computacional móvel para execução de tarefas,
anotação de ideias, consulta de informações via internet, registro de fotos
através de câmeras digitais, gravações e sons. Além disso, poderá prover acesso
a conteúdos em qualquer lugar e a
qualquer momento, desenvolver métodos inovadores de ensino e de
treinamento e expandir os limites da
sala de aula.
Várias
teorias têm buscado respostas para esse novo campo educacional, a educação com
mobilidade. (SIMENS, 2008) defende que a aprendizagem está fora e dentro do
sujeito. Pachler, Bachmair & Cook (2010) propuseram um modelo
conceitual para mobile learning,
visualizado em termos ecológicos como parte de contextos socioculturais e
pedagógicos em transformação. Os autores estabelecem que o processo de
aquisição de conhecimento está envolvido a partir de múltiplos contextos.
Para que possamos entender a importância de uma nova tecnologia digital
e apreciar porque tal tecnologia tem um papel representativo em nossas vidas,
faz-se necessário entender que tal tecnologia pode ser muito valiosa para
reposicionarmos os valores de antigas tecnologias em nossas vidas (LAURILLARD,
2010).
O aspecto da mobilidade parece um traço curioso no vasto campo da
aprendizagem. É definida, inteiramente, por uma característica que a difere das
outras tecnologias, ou seja, a mobilidade em si. Uma tecnologia móvel incorpora
capacidades digitais já conhecidas por nós e o simples fato dessa capacidade já
gera um campo de estudos conhecido como mobile
learning.
O aparecimento dos computadores e, mais recentemente, os dispositivos
móveis agiram, sem dúvida, como um divisor de águas que revolucionou a vida do
homem, pois trouxe muitas facilidades, bem como automatizou as nossas
atividades em todas as áreas do saber. Com o computador, tudo ficou mais prático,
veloz e preciso. Novas áreas surgiram, bem como, obrigou as pessoas a se especializarem;
ampliando, inclusive, o leque de profissões. Há vinte ou trinta anos atrás,
seria improvável pensarmos em um analista de redes sociais, gerente de e-commerce, especialista em ferramentas
de inovação, nano técnico, desenvolvedor de Apps
etc.
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